Migrant Women and the Media was the focus of an event last Sunday - Oct 24 - at Casa do Alentejo in Toronto.
Event Planners: Portuguese Migrant Women, Managing Editor IMF/ESF and Casa do Alentejo. We want to thank MPP Laura Albanese, Maria Manuela Aguiar former Portuguese Secretary of State for Migration and Julio Vilela the Portuguese Consul in Toronto for their presence and support.
As jornalistas na diáspora e a formação profissional
Boa tarde e muito obrigado pela oportunidade que me é dada por esta organização – a Associação da Mulher Migrante - para ajudar na organização deste evento e falar, pela segunda vez da minha experiência como jornalista na Diáspora.
Gostaria de vos falar de uma questão que acho extremamente importante para a valorização da mulher jornalista na Diáspora, que é a questão da formação profissional e as novas tecnologias.
Reportando-me um pouco a Portugal e baseando-me em dados apresentados pela pesquisadora Filipa Subtil - Socióloga da Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa - antes do 25 de Abril as mulheres quase não existiam nos jornais.
Segundo dados do Sindicato dos Jornalistas de 1995, elas representavam cerca de 30% do total dos profissionais. Na altura, dizia esta socióloga, ao lado dos grandes proprietários das empresas de imprensa não se encontra nenhuma mulher.
Situação idêntica ocorria na direcção dos principais jornais, rádios e televisões com algumas excepções principalmente nos órgãos de comunicação social dirigidas ao público feminino, nomeadamente revistas.
São também escassos os cargos de chefia ocupados por mulheres nas redacções. A elite jornalística continua, portanto, a ser predominantemente masculina, o que significa que o ingresso das mulheres na profissão não tem correspondido idêntico acesso a lugares de relevo. No jornalismo, as mulheres encontram-se, na sua esmagadora maioria, a desempenhar funções de execução” ‘ dizia ainda esta socióloga.
Parece-me que estes são factos que nada de novo trazem a esta discussão, pois são bem conhecidos de todos e de todas e reflectem-se sobremaneira nas redacções dos Órgãos de Comunicação Social das comunidades.
Tem-se assistido em Portugal e aqui também, com as gerações mais jovens da diáspora portuguesa, que a chegada de uma nova geração de mulheres ao jornalismo coincide com a chegada feminina em massa a certas profissões liberais.
A crescente profissionalização feminina esta assim relacionada com os níveis de instrução escolar.
Portanto há que aceitar que o aumento da escolaridade e as habilitações por ele propiciadas são fundamentais para a compreendermos este processo.
Apesar de sabermos que uma credencial universitária – pelo menos na minha geração e nas que me antecederam - não constituiu condição necessária para se ingressar na profissão, hoje um dos mais importantes campos de recrutamento é o meio universitário, nomeadamente a frequência dos cursos de comunicação e jornalismo.
Devo dizer que para o encontro que tivemos sobre o Acordo Ortográfico na passada sexta-feira e este de hoje pretendi fazer um inquérito a todos os O C Social escritos e não só - incluindo rádio, televisão e online – para em primeiro lugar saber se aplicavam o Acordo – nos casos dos media escritos - e em segundo para perceber um pouco sobre a situação da mulher nos media comunitários.
DOS 22 – inclui dois jornais dos Estados Unidos - e no que diz respeito à escrita de uma dúzia inquiridos em Montreal, Estados Unidos, Vancouver e Toronto 3 responderam:
Em Montreal dois estão a aplicar o Acordo: O lusopresse e o Voz de Portugal - embora deixando em aberto a aplicação ou não do mesmo por parte dos colaboradores.
No que diz respeito às mulheres as perguntas eram simples e estas:
- Quantas mulheres trabalham no seu OCS?
- Em que departamentos?
- Quantas a tempo inteiro, ou freelancer ou part-time?
Fugimos de salários, preços de trabalho à peca, pagamentos a hora? Pagamentos por palavra? Fotos incluídas ou não? … ou qualquer questão que pudesse ser mais sensível,
Destes 22 OCS questionados só três responderam também sobre a questão da mulher:
1 jornal de Toronto tem 10 mulheres empregadas pela produção, vendas e colaboração escrita.
Duas a tempo inteiro. Duas freelancer e as restantes colaboradoras.
Em Montreal um jornal tem 5 colaboradoras regulares e são beneméritas, portanto não recebem pelo trabalho que fazem. O outro semanário não tem nenhuma mulher no seu elenco.
Nada de novo que me surpreendesse. O que me surpreendeu foi o silêncio!
Esta realidade - a do silêncio por parte dos órgãos directivos destes OCS - tem decerto consequências efectivas no sistema profissional, sendo um dos factores que vai influenciar o futuro das mulheres nos nossos órgãos de comunicação social comunitários, que já começam a enfrentar problemas sérios com colaboradores e trabalhadores a chegarem a idade da reforma , muitos desadaptados/as das novas realidades e transformações profundas que as comunidades estão a enfrentar e, claro lutando contra novas formas de fazer informação e de chegar a um publico mais alargado, que como vocês todos sabem é cada vez mais um publico bilingue e onde a informação em língua portuguesa começa a sofrer fortes estrangulamentos, pois não se dirige ao publico mais jovem e cujos conteúdos não se adaptaram de forma alguma a estas novas realidades.
Isto claro para não falar em pormenor dos grandes desafios que enfrentam as jornalistas que há muitos anos trabalham na comunidade. Desafios estes relacionados com o acesso às novas tecnologias, a inovadoras formas de informar, - o blog, o tweeter, o Facebook, o portal só para falar de alguns - e claro a formação profissional, que não se esgota nos princípios ético-profissionais e práticos de fazer a noticia, mas que se estendem claro ao mundo do virtual, do saber mover-se no universo da Internet, de perceber a forma de apresentar e produzir novos conteúdos e saber como aproveitar as oportunidades para neste novo ambiente ser capaz de encontrar uma liberdade económica que lhe permita florir e sair de uma certa escravidão financeira que tem vivido.
Apesar de um crescente ingresso das jovens migrantes no ensino superior e mesmo na área da media, estas jovens não estão a encontrar espaço nos nossos órgãos de comunicação social para imprimirem um novo fôlego aos nossos media, não só claro por causa da língua – embora em alguns casos haja profissionais jovens com capacidade para se exprimirem na língua portuguesa – mas muito especialmente porque as condições são de estrangular à partida qualquer tentativa de ASSALTO aos media portugueses por parte das gerações mais novas, neste caso jovens mulheres com formação adequada e preparadas para enfrentar os desafios, que se aproximam.
Ainda há dias alguém que trabalha num semanário aqui em Toronto dizia que não recebia há quatro meses! Quatro meses senhoras e senhores. E este jornal sai todas as semanas e muito das suas paginas deve a colaborações externas - freelancer!
Acham que realmente alguém vai pretender – ingressar num sistema . injusto, caduco e desprovido de respeito pelos seus trabalhadores e trabalhadoras?
“Saber é poder”, mas para a mulher não tem sido muito assim. Porém, cabe às mulheres jornalistas, aqui e agora, aquelas que fazem parte desta geração que começa a cansar-se de fazer informação todos os dias, de ter ainda que montar o jornal, tirar as fotografias, andar a procura de publicidade, paginar e ainda distribuir – isto no caso de alguma imprensa – em circunstancias diferentes nos outros media - de dizer BASTA - rejuvenescendo profissionalmente e dizendo estou aqui.
A situação porque passam muitas jornalistas só se deve também a elas próprias.
Para algumas pessoas escrever num jornal ou aparecer na televisão é um privilegio tão grande dado por uns senhores muito importantes e muito reconhecidos na sociedade, que se tornam, por vezes inconscientemente de tal forma servis esquecendo-se que primeiro do que tudo estão os princípios éticos da profissão; em segundo lugar, no caso da jornalista a sua dignidade como mulher e trabalhadora com direitos iguais aos colegas homens pressionado para que esta sua presença nestes mesmos órgãos de comunicação social reflicta uma forma diferente de fazer jornalismo, interessando-se e defendendo do silencio mais de metade da população esquecida, que são as mulheres, crianças e idosas e imprimir no seu trabalho um cunho próprio, independente e que sirva de exemplo às gerações mais novas sabendo fazer frente ao poder, seja ele qual for em defesa dos seus direitos e dos direitos daquelas que chegam depois.
Quando ouço muitos e muitas jornalistas dizerem que trabalham tanto, que não têm salários dignos, que não têm palavra a dizer e que estão ali para fazer o que aparece e que lhe mandam, a qualquer hora do dia ou da noite, muitas vezes contra princípios ético-profissionais - digo também. PARA AI!
Herdaste o que te deixaram. MAS continuaste e não contribuíste para modificar a situação.
E agora permitem-me só que lhes diga como acho que tal pode ser possível!
A formação profissional é o primeiro passo a dar. Estamos num pais que oferece muitas oportunidades de formação na área da comunicação e jornalismo.
Porque não aproveitar?
Porque não voltar ao colégio para rejuvenescer ingressando em cursos oferecidos que vão desde as praticas bases do jornalismo aos novos media, como a Internet e as possibilidades que ela oferece para expandir ideias e conhecer outras pessoas em circunstâncias idênticas.
Porque não fazer parte de organismos canadianos dos media comunitários aproveitando as oportunidades que existem também nas áreas do desenvolvimento profissional, da troca de conhecimentos e ideias com outras jornalistas.
Porque não integrar-se mais no país em que vivem participando e cobrindo eventos fora da comunidade mas que são cruciais para que as mulheres na diáspora saibam mais sobre a sociedade em que vivem e que se interessem mais pela leitura dos jornais.
Porque não unirem-se nas comunidades e não se esconderem no silêncio com medo de que as suas frustrações e necessidades sejam ouvidas mostrando que têm coragem e que são donas de ideias próprias, diferentes, ousadas em vez de andarem sob o guarda-chuva de meia dúzia que tomaram conta comunicação social nas comunidades e que usam o seu poder dentro e fora das redacções?
Porque não indagar sobre as possibilidades que o estado português, através da Secretaria de Estado das Comunidades e o Sindicato dos jornalistas e o seu Centro de Formação possa oferecer lembrando-se que aqui existem jornalistas que necessitam de acompanhamento e apoio?
O jornalismo feito pelas mulheres é e deve ser um jornalismo diferente. Conhecer e interessar-se pelas questões da mulher no seu todo são fundamentais para que estes temas sejam trazidos à baila, discutidos e analisados pela comunidade.
Por vezes porque temos duvidas e não temos a quem perguntar – ou porque temos medo ou vergonha de questionar – acabamos por fazer sempre o que os outros querem. A formação profissional contínua ensina-nos a entender o mundo em que vivemos e a aproveitar as novas oportunidades que existem.
MAS as coisas não vão mudar se não formos nós próprias – as mulheres jornalistas a mudarem e a imporem novos valores que devem ser baseados no profissionalismo, na cidadania e na compreensão do mundo em que vivemos.
A escolaridade feminina em qualquer profissão induz mudanças graduais no estatuto social das mulheres, nas relações sociais e profissionais.
A mudança que se quer também no panorama mediático não deve assentar na fragilidade estrutural das empresas de comunicação social que têm como estratégia de rentabilidade formas de precariedade laboral ligadas ao recrutamento de mão-de-obra barata onde se inclui a feminina, que tal como em muitos outras empresas as mulheres imigrantes são expostas à subcontratação.
Ela deve assentar no direito que advem do conhecimento e da cidadania!
Para terminar que já me alonguei demais, gostaria de alertar para o facto de que temos muitas mulheres nos OCS aqui mesmo em Toronto mas que aqui não estão.
As direcções dos jornais foram alertadas para este evento e pedido que informassem as suas trabalhadoras desta oportunidade.
MAS elas não estão aqui como também não estiveram na nossa discussão sobre o Acordo Ortográfico na passada sexta-feira.
Porque? Parece-me que muitas das respostas já aqui foram dadas. MAS quero ainda acrescentar que por vezes, porque estas mulheres para sobreviverem precisam de ter mais do que um emprego, o tempo para a formação e valorização não aparece e dai também se esgotam as oportunidades de mudar a situação.
Termino agradecendo a Associação da Mulher Migrante por esta oportunidade com um pedido de sensibilização das autoridades portuguesas para que apoiem também a formação dos e das jornalistas na diáspora.
Talvez possa parecer estranho ou impossível, mas as oportunidades dos novos media não são conhecidas nem aproveitados ainda por muitas mulheres que trabalham nos Órgãos de Comunicação Social.
A Internet é ainda um monstro que precisa ser dominado, mas nada pode ser feito se não forem as próprias mulheres nesta profissão a olharem para si, para a comunidade e para os seus locais de trabalho de forma diferente.
Muito Obrigado
Humberta Araujo
Time to remember the work of Maria Alice Ribeiro the first Portuguese Migrant Journalist in Toronto and co-founder of the first Portuguese newspaper in Ontario The Portuguese Courier"
Malice died in 2000.
Recognized as a "fearless journalist she is missed by all and she was a voice that the community needs today" - Friend, co-worker and President of Casa do Alentejo Armando Viegas.
Jose Saramago was also remembered by Casa Do Alentejo with readings and book launches